QUANDO UM CRIMINOSO ELOGIA OUTRO

O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, considerou, em Luanda, Angola como uma nação importante na África Central, e manifestou satisfação pelo facto do país assumir a presidência rotativa da União Africana (UA), a partir do próximo mês.

Teodoro Obiang falava à imprensa no final de um encontro com o seu homólogo angolano, o general João Lourenço, com quem abordou vários assuntos, com realce para a segurança em África e a necessidade do continente ser representado no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Na ocasião, o ditador Chefe de Estado da Guiné Equatorial disse que se deve continuar a solicitar aos cinco países membros permanentes para aceitarem a atribuição de dois assentos ao continente africano no Conselho de Segurança, com todas as prerrogativas, incluindo o direito de veto.

“Tendo em conta que o meu irmão vai assumir a presidência da União Africana, penso que este é um ponto bastante importante que devemos tratar na próxima cimeira, para que possamos apresentar uma proposta convincente aos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança, pedindo que tenham a benevolência de conceder ao continente africano dois assentos no Conselho de Segurança”, sublinhou.

Sobre os problemas que afectam o continente, o (suposto) estadista da equato-guineense mostrou-se satisfeito por a África Central ter apenas um único país a enfrentar problemas de mudança anticonstitucional, o Gabão, que neste momento está a implementar o programa de transição.

Temas como a economia no continente foram igualmente abordamos, bem como a situação da Zona Continental de Livre Comércio, para que haja trocas de produtos sem sobrecarregar os impostos dos países africanos, para fortalecimento dos mercados do continente.

Angola vai assumir a presidência rotativa da União Africana durante a 38.ª sessão Ordinária da Conferência de Chefes de Estado e de Governo, agendada para os dias 15 e 16 de Fevereiro do corrente ano.

O MPLA/Estado/regime está no poder desde 1975 e por lá vai ficar. O mesmo se aplica à FRELIMO. A razão é simples. Com a ajuda subserviente da comunidade internacional, o regime continua a aumentar a razão da força e a arrasar a força da razão. Só militares são mais de 100 mil. Activistas sociais são pouco mais (recordam-se?) do que 15+2.

Todo o mundo sabe que com o poder absoluto que tem nas mãos (sejam as mãos do general João Lourenço ou de Teodoro Obiang) o MPLA/Estado/regime é uma das ditaduras mais antigas do mundo. E, como também todos sabem, se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. Não admira, por isso, que Angola seja um dos países mais corruptos do mundo.

O facto de não ser caso único, nomeadamente em África, em nada abona do ponto de vista democrático e civilizacional a favor do MPLA. Mas, verdade seja escrita, isso não o preocupa. Se ele foi capaz de se divorciar da União Soviética para casar com os EUA, e continuar a ir para a cama com chineses, árabes etc. é porque sabe de que lado sobrevivem os ditadores bons.

Tivesse Muammar Kadafi tido o mesmo sentido estratégico e ainda hoje estaria do lado dos ditadores bons. Como mudou, passou a terrorista mau, e foi o que se viu.

Só em ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, é possível um partido/seita estar tantos anos no poder. Em qualquer estado de direito democrático tal não seria possível. Mas isso tem alguma importância? Claro que não. Dúvidas? Basta perguntar a João Lourenço ou Teodoro Obiang, entre muitos outros.

Aliás, e Angola não foge infelizmente à regra, África é um alfobre constante e habitual de conflitos armados porque a falta de democraticidade obriga a que a alternância política seja conquistada pela linguagem das armas. Há obviamente outras razões, mas quando se julga que eleições (ainda por cima fraudulentas, como foi o caso de Moçambique) são só por si sinónimo de democracia está-se a caminhar para a ditadura. Foi, infelizmente, o nosso caso. Foi, infelizmente, o caso dos moçambicanos.

Com José Eduardo dos Santos passou-se exactamente isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue imaginar de mau. Permitiu ao presidente do MPLA perpetuar-se no poder, tal como como permitiu que a UNITA dissesse que essa era (e pelo que se vai vendo até parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país. Goste-se ou não, as manigâncias eleitorais protagonizadas pelo MPLA (veja-se o caso da FRELIMO) indiciam que a ditadura só acaba com uma revolução que pode (esperamos que não) ser escrita com sangue.

E quando, por manifesta ingenuidade e não menos manifesta simplicidade, o Povo dá sinais de querer alterar este (mau) estado de coisas, o regime acena logo com o espectro da guerra. “Isso não”, dizem os angolanos de tão sacrificados por dezenas de anos de guerra. E, mal por mal, preferem a barriga vazia do que os tiros. Mas que começam a estar fartos, isso começam.

Também a comunidade internacional vem logo a terreiro para, sem cuidar da veracidade das teses do regime, dizer que não permitirá o regresso à violência. E como é que o faz? Simples. Apoiando quem está no poder, independentemente de ser uma ditadura corrupta e a abarrotar de ladrões.

É claro que, é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilharam) carne para canhão. Seja na guerra ou na paz, o Povo continua a ser o escravo.

Por outro lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamente EUA e União Europeia (e até mesmo a União Africana), ajuda a dotar o Presidente do MPLA com o rótulo de grande estadista. Rótulo que não corresponde ao produto. Essa opção estratégica, reconheça-se, tem razão de ser sobretudo no âmbito económico.

É muito mais fácil negociar (Portugal que o diga) com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante uma eternidade, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituído pela livre escolha popular.

É, como aconteceu e continuará a acontecer, muito mais fácil negociar com o líder de uma seita que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias, representante temporário do povo soberano.

É claro que, enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois… com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 50 anos é o MPLA. Até um dia, como é óbvio.

Artigos Relacionados

Leave a Comment